A importância das rotinas e o impacto das suas alterações na criança/adolescente
A rotina tem um papel organizador no ser humano, conferindo-lhe sensação de estabilidade e de continuidade. Embora constitua um fator relevante em qualquer idade, é nas crianças e adolescentes que esta assume especial relevância, tornando-os mais vulneráveis a possíveis alterações e, consequentemente, ao impacto emocional que estas poderão acarretar.
A postura dos cuidadores assume um papel fundamental, na medida em que, frequentemente, a reação das crianças é um reflexo da reação do adulto. Perante esta premissa, a partilha de estratégias para lidar com o stress e as mudanças assume particular importância, a par da explicação da necessidade das alterações à rotina pessoal e familiar, mantendo, sempre que possível, os horários de sono, refeições, estudo e lazer devam ser mantidos.
Existe um vasto e variado leque de reações normativas nas crianças e adolescentes, variando consoante o grupo etário, por exemplo:
- Crianças até aos 2 anos de idade podem chorar mais do que o habitual, fazer mais birras e alterar o padrão do sono, requisitando maior atenção por parte do adulto;
- Crianças entre os 3 e os 6 anos poderão apresentar regressão comportamental, alterações do sono e mostrarem-se mais angustiadas quando afastados dos cuidadores de referência;
- Crianças dos 7 aos 10 anos poderão tornar-se mais irritáveis ou mais tristes, com dificuldades de concentração e alterações do sono;
- Pré-adolescentes e adolescentes poderão mostrar-se mais ansiosos, irritáveis e impulsivos, tornando-se propensos a adotar comportamentos de risco.
A problemática surge quando as alterações no funcionamento da criança ou adolescente se tornam desajustadas e interferem no seu funcionamento, nomeadamente quando a ansiedade e a irritabilidade são excessivas e frequentes, quando existe a perda de motivação para atividades que anteriormente eram apreciadas, isolamento social e tristeza mantidos, alterações persistentes do padrão de sono ou alimentar. Também alterações significativas no rendimento académico ou comportamentos de recusa escolar, início ou agravamento de comportamentos auto-lesivos, conversas sobre intenção suicidária, surgimento ou agravamento de consumo de substâncias psicoativas deverão merecer especial atenção. Observar o comportamento das crianças e jovens é uma tarefa fundamental do adulto cuidador e, sempre que surjam preocupações, deverá ser providenciado o acompanhamento e ajuda adequados, tão brevemente quanto possível.
Autor
Raquel Campos, Médica de Pedopsiquiatria (OM 62329).
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