A intervenção do Terapeuta da Fala nas dificuldades de mastigação / deglutição

A intervenção do Terapeuta da Fala nas dificuldades de mastigação / deglutição

Mastigar e engolir parecem ser atos naturais no ser humano; No entanto, nem sempre estas funções ocorrem com a facilidade desejada e a hora da refeição pode tornar-se a mais complicada das horas!

A dificuldade de mastigação / deglutição não é um problema invulgar e poderá afetar cerca de 25% das crianças! (Arts-Rodas, Benoit, 1998).

O processo de alimentação desenvolve-se desde a sucção do leite materno, passando pela introdução de alimentos em puré, seguida de alimentos mais consistentes que a criança mastiga, até aos alimentos mais duros. Para que todo este processo se desenrole é fundamental um desenvolvimento adequado do sistema neurológico, psicomotor e comportamental.  Passando o período ótimo para iniciar os alimentos sólidos, pode tornar-se difícil que a criança os aceite e surjam as dificuldades de mastigação. Quanto mais distante este período ótimo, maior é o risco de rejeição de novos paladares, consistências e texturas.

Além da função nutritiva, a introdução gradual de alimentos com crescente consistência garante o desenvolvimento musculo-esquelético das estruturas oro-faciais. Os músculos aumentam a força pela necessidade gradual de aplicar mais força na mastigação e o seu uso afeta o crescimento ósseo de estruturas como a mandíbula.

Como tal, perturbações da alimentação podem levar a perturbações no desenvolvimento global da criança, no sistema motor oral com implicações nas estruturas faciais e nas funções com ele relacionadas. Se o desenvolvimento motor oral não for adequado podemos observar dificuldades diretamente relacionadas com a alimentação, mas também com a fala e respiração, funções que “usam” os mesmos músculos.

Assim, é importante verificar se existem:

  • Dificuldades de mastigação (se engole bocados inteiros, revela cansaço na mastigação; recusa consistências mais duras);
  • Comida na boca por longos períodos de tempo sem a engolir;
  • Engasgos ou vómitos frequentes;
  • Problemas em respirar enquanto come ou bebe;
  • Choro excessivo na hora da alimentação;
  • Dificuldades na introdução de alimentos com diferentes texturas, cor, temperatura ou sabor;
  • Alimentação exclusiva com determinados alimentos;

Quando a hora da refeição se torna um verdadeiro problema, deverá procurar a avaliação por parte do terapeuta da fala. A intervenção do terapeuta da fala poderá passar por:

  • tornar os músculos envolvidos no processo de mastigação e deglutição mais fortes.
  • ajudar no processo de mobilização da língua.
  • adequar a sensibilidade intra e extra oral. A recusa de consistências novas pode surgir porque a criança estranha as novas sensações na boca ou até nas mãos, pelo que deve ser realizado um trabalho que permita à criança conhecer novas sensações e aceitá-las.
  • ensinar a mastigar os alimentos usando a musculatura bilateralmente e de forma equilibrada.
  • fazer com que criança experimente novos alimentos e bebidas.
  • se necessário, mudar as texturas dos alimentos e a espessura do líquido para ajudar a engolir com segurança.
  • Adequar o comportamento durante as refeições. 

O principal objetivo da intervenção do Terapeuta da Fala é a normalização do processo de alimentação, tornando-o prazeroso e seguro para a criança, elimindo assim as dificuldades de mastigação / deglutição.

Revisão da Literatura

https://www.asha.org/public/speech/swallowing/Feeding-and-Swallowing-Disorders-in-Children/

Arts-Rodas, D & Benoit D.(1998) – Feeding problems in infancy and early childhood: Identification and management – Paediatr Child Health.Jan-Feb; 3(1): 21–27.

Autoras:

Maria João Costeira, Terapeuta da Fala (C-020553188).

Mariana Cirne de Almeida, Terapeuta da Fala (C-038975181).