A tristeza

Sentir-se triste não significa que esteja deprimido.

Sentir-se triste é tão natural como sentir-se feliz e não é um sinal de fragilidade psicológica.

A experiência da dor e do sofrimento é sempre individual e subjetiva e por isso não pode ser avaliada numa escala comparativa.”

De entre tantas outras, a tristeza é apenas mais uma das emoções humanas; assemelha-se às restantes, na medida em que na sua base estão padrões neurofisiológicos complexos de reação que envolvem mecanismos subjectivos de natureza empírica, comportamental e psicofisiológica, que permitem a cada um reagir de forma adaptativa a estímulos externos.

Cada emoção depende por isso da relevância que é atribuída ao estímulo externo; a tristeza assemelha-se muito à dor física, na medida em que ambas são reacções a um estímulo considerado desagradável e desfavorável à homeostase ( ao equilíbrio). A tristeza é caracterizada por um estado de infelicidade, normalmente despertado pela perca de algo que se valoriza (uma pessoa, um emprego, ou um objectivo desejado mas não concretizado).

É interessante pensar que sendo algo tão natural, geralmente não é bem aceite nem tolerada, provavelmente por ser desagradável, de certeza também porque a tristeza é encarada por muitos como um sinal de fragilidade. Desde cedo, e ao longo dos processos educativos somos treinados para para a felicidade, ensinam-nos que devemos evitar a frustração (“estuda para seres alguém”), que a vida é para ser vivida (frase geralmente associada ao bem-estar e felicidade). Somos assim treinados para o sucesso. Quanto às vivências dolorosas, ou seja, aquelas que nos provocam tristeza, somos ensinados a camuflá-las ou encondê-las e nestes casos a educação começa com os célebres “não chores que é feio”, “os meninos ou meninas lindos não choram” ou então a desvalorizar a tristeza; não admira por isso que algumas vezes aos consultórios de psicologia cheguem crianças que afinal estão apenas tristes com as frustrações típicas da infância;

Resultado de todos estes processos educativos e duma certa patologização da tristeza, o “não chores que é feio” das crianças chega ao estado adulto e transforma-se em “não vou mostrar as minhas fragilidades”, como se quando alguém se sente triste em resultado de uma contingência da sua vida, isso signifique que tem alguma espécie de defeito ou é um ser humano frágil.


Procurar um Psicólogo é tão natural como procurar um médico.

Falar acerca do que o deixa triste não é um sinal de fragilidade; pelo contrário permite-lhe tornar-se mais resiliente, porque encontra novas formas de interpretar e lidar com a realidade.

Autor

Rolando Andrade,  Psicólogo Clínico (CP O.P.P 4365).

Outros artigos

Siga-nos