Abdominais Hipopressivos como técnica na reabilitação de disfunções do pavimento pélvico

O que são abdominais hipopressivos?

A técnica abdominais hipopressivos foi desenvolvida em 1980 pelo Dr. Marcel Caufriez, com o intuito de fortalecer os músculos abdominais e do pavimento pélvico.1, 11 Os abdominais hipopressivos são exercícios de postura coordenados com um ritmo respiratório específico para diminuir a pressão intra-abdominal.3 A interação destes fatores faz com que a parede abdominal se mova em direção à coluna lombar (movimento posterior e superior da parede abdominal), conduzindo a um deslocamento superior da cúpula do diafragma e consequente diminuição da pressão intra-abdominal.3 Assim, Caufriez formulou a hipótese que com apenas um método e em simultâneo, seria possível relaxar o diafragma, diminuir a pressão e ativar os músculos abdominais e, também do pavimento pélvico.5,  7, 11

Como se executam os abdominais hipopressivos?

Os abdominais hipopressivos são executados em três fases: 1) inspiração diafragmática lenta e profunda, 2) expiração total do ar e, 3) aspiração diafragmática, em que ocorre progressiva contração dos músculos abdominais profundos, intercostais e elevação das cúpulas diafragmáticas.12, 15, 17 

Qual a relação entre os abdominais hipopressivos e o pavimento pélvico?

A parede abdominal está diretamente relacionada com o movimento das vísceras quer digestivas, quer pélvicas no eixo umbigo-cóccix contra o assoalho pélvico, oferecendo-lhe mais ou menos estabilidade dependendo da sua resistência e pressão contida. O aumento de pressão produzido no pavimento pélvico fraco conduz a uma perda progressiva na capacidade de retenção dos órgãos associados. Assim, os abdominais hipopressivos surgem como um meio de obtenção de uma melhor sinergia entre a parede e assoalho não só prevenindo mas também, reduzindo o impacto de disfunções no pavimento pélvico como a instabilidade pélvica, incontinência urinária e fecal, e até mesmo disfunções sexuais. 3, 16, 19  Atualmente, há mais 800 posturas possíveis para realizar os abdominais hipopressivos 3 e cada vez mais é um método utilizado por toda a Europa nas disfunções do pavimento pélvico das mulheres. 10, 13, 18   

Mas qual é a função normal do Pavimento Pélvico?

De acordo com o Grupo de Avaliação Clínica do Pavimento Pélvico da International Continence Society, os músculos do pavimento pélvico apresentam uma função normal quando possuem “a capacidade de contrair e relaxar de forma voluntária e involuntária”, existindo cada vez mais evidência de que um elevado número de mulheres é incapaz de contrair estes músculos. 18 Estudos de prevalência indicam que entre 25% e 46% das mulheres sofrem de alguma disfunção do pavimento pélvico, 70% das mulheres com disfunção são incapazes de realizar uma contração voluntária correta destes músculos e 97% possuem défice de força dos mesmos.7 O sexo feminino parece ser o mais afetado devido a fatores como a idade, gravidez, tipo de parto, menopausa, excesso de peso, episódios de tosse recorrente, profissão ou prática de exercício físico de elevado impacto. 7, 15, 16

Como posso treinar o meu pavimento pélvico?

O treino dos músculos do pavimento pélvico foi iniciado por Arnold Kegel, no final da década de 1940, com o intuito de prevenir as disfunções supracitadas. 1, 3, 5, 12, 15  Atualmente, para além dos abdominais hipopressivos, existe uma enorme variedade de possíveis intervenções terapêuticas (pilates, yoga, reeducação global postural, Tai Chi, exercícios de respiração, exercícios de biofeedback, treino dos músculos abdominais profundos, fitness, método de Paula).5, 8

Como todas as técnicas utilizadas na reabilitação, os abdominais hipopressivos são apenas mais uma das variadas ferramentas úteis na Fisioterapia. Estes não devem ser utilizados como uma técnica exclusiva. O sucesso de um plano de reabilitação está não só na eficácia das técnicas utilizadas mas também, no facto de considerarmos o nosso utente/cliente como um todo e adaptarmos a ele o conjunto de técnicas mais apropriadas.

Autora

Mariana Borges, Fisioterapeuta (C-061434078).

Revisão da Literatura

1.Bernardes, B. T., Resende, A. P. M., Oliveira, E., & Stüpp, L. (2012). Efficacy of pelvic floor muscle training and hypopressive exercises for treating pelvic organ prolapse in women: randomized controlled trial. São Paulo Medical Journal, 130(January), 5–9. https://doi.org/10.1590/S1516-31802012000100002

2.Bø, K. (2006). Can pelvic floor muscle training prevent and treat pelvic organ prolapse?, Acta Obstetricia et Gynecologica, 85(November 2004), 263–268. https://doi.org/10.1080/00016340500486800

3.Bø, K., Berghmans, B., Mørkved, S., & Kampen, M. Van. (2015). Evidence-based Physical Therapy for the Pelvic Floor: Bridging science and clinical practice. (Elsevier, Ed.) (2nd ed.). China: Churchill Livingstone. Physiotherapy, 59, 159–168. https://doi.org/10.1016/S1836-9553(13)70180-2

4.Bø, K., Mørkved, S., Frawley, H., & Sherburn, M. (2009). Evidence for Benefit of Transversus Abdominis Training Alone or in Combination With Pelvic Floor Muscle Training to Treat Female Urinary Incontinence: A Systematic Review. Neurourology and Urodynamics, 28(November), 368–373. https://doi.org/10.1002/nau 16

5.Bø, K., & Herbert, R. D. (2013). There is not yet strong evidence that exercise regimens other than pelvic floor muscle training can reduce stress urinary incontinence in women: a systematic review. Journal of Physiotherapy;59(3):159‐168. https://doi:10.1016/S1836-9553(13)70180-2

6.Bø, K., & Sundgot-Borgen, J. (2010). Are former female elite athletes more likely to experience urinary incontinence later in life than non-athletes, Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 20, 100–104. https://doi.org/10.1111/j.1600-0838.2008.00871.x

7.Brazález, B. N., Lacomba, M. T., Martín, B. A., & Méndez, O. S. (2017). Respuesta muscular durante un ejercicio hipopresivo tras tratamiento de fisioterapia pelviperineal: valoración con ecografía transabdominal. Fisioterapia, 4–11. https://doi.org/10.1016/j.ft.2017.04.003

8.Dierick, F., Galtsova, E., Lauer, C., Buisseret, F., Bouché, A.-F., & Martin, L. (2018). Clinical and MRI changes of puborectalis and iliococcygeus after a short period of intensive pelvic floor muscles training with or without instrumentation: A prospective randomized controlled trial. European Journal of Applied Physiology, May(22). https://doi.org/10.1007/s00421-018-3899-7

9.Hernández, R. R. de V. (2018). Efficacy of hypopressive abdominal gymnastics in rehabilitating the pelvic floor of women: A systematic review. Actas Urológicas Españolas, October. https://doi.org/10.1016/j.acuroe.2018.09.001

10.Lemes, E. C., Ribeiro, A. M., Antônio, F. I., Brito, L., & Ferreira, C. (2017). Physiotherapy methods to facilitate pelvic floor muscle contraction: A systematic review. Physiotherapy Theory and Practice, December, 1–13. https://doi.org/10.1080/09593985.2017.1419520

11.López, M., & Villalobos, V. (2018). Ejercicios hipopresivos: prescripción, técnicas y efectividad. Revista Clínica de La Escuela de Medicina UCR-HSJD, (4).

12.Martín-Rodríguez, S., & Bø, K. (2017). Is abdominal hypopressive technique effective in the prevention and treatment of pelvic floor dysfunction, British Journal of Sports Medicine, October(16), 1–3. https://doi.org/10.1136/bjsports-2017-098046

13.Molina-Martínez, E., Sánchez-García, J. C., Merino-García, E., Montes-Tejada, A., & Rodriguez-Blanque, R. (2019). Ejercicio abdominal hipopresivo en el posparto: Hipopressive abdominal exercises in pospartum period. Journal of Negative & No Positive Results, 4(4), 409–421. https://doi.org/10.19230/jonnpr.2951

14.Resende, A. P. M., Oliveira, E., & Sartori, M. G. F. (2018). Pelvic floor muscle training is better than hypopressive exercises in pelvic organ prolapse treatment: An assessor-blinded randomized controlled trial. Neurourology and Urodynamics, (March), 1–9. https://doi.org/10.1002/nau.23819

15.Rial, T., Tormo, J. M. C., Chulvi-Medrano, I., & Sáez, M. Á. (2015). Puede un programa de ejercicio basado en técnicas hipopresivas mejorar el impacto de la incontinencia urinaria en la calidad de vida de la mujer? Revista Espanhola Sobre Medicina Del Suelo Pélvico de La Mujer y Cirurgía Reconstructiva, 11(2), 1–6.

16.Rodas, M. C., & García-perdomo, H. A. (2018). From Kegel exercises to pelvic floor rehabilitation: A physiotherapeutic perspective. Revista Mexicana de Urologia, 78(5), 402–411.

17.Stüpp, L., Resende, A. P. M., Petricelli, D., Nakamura, M. U., Alexandre, S. M., & Zanetti, M. R. D. (2011). Pelvic Floor Muscle and Transversus Abdominis Activation in Abdominal Hypopressive Technique Through Surface Electromyography. Neurourology and Urodynamics, 30(April), 1518–1521. 18

18.Talasz, H., Kalchschmid, E., Kofler, M., & Lechleitner, M. (2012). Effects of multidimensional pelvic floor muscle training in healthy young women. Archives Gynecology Obstetrics, 285, 709–715. https://doi.org/10.1007/s00404-011-2039-y

19.Tracogna, V., & Rebullido, T. R. (2018). Expectativas y beneficios percibidos del ejercicio hipopresivo por mujeres : una experiencia práctica Women ’ s expectations and perceived benefits of hypopressive exercise : a practical experience. Retos, 34, 138–141.


Outros artigos recentes