“Coisas de Loucos”
Há uns dias, terminei de ler um livro que comprei, por acaso, num evento. Acabou por se tornar na minha companhia de viagem todos os dias, durante algum tempo, e foi-me surpreendendo a cada capítulo. Neste livro – “Coisas de Loucos – O que eles deixaram no manicómio” -, está retratada uma investigação, levada a cabo por uma jornalista portuguesa – Catarina Gomes – e iniciada a partir do momento em que esta encontrou, por acaso, uma caixa com objetos abandonados, no primeiro hospital psiquiátrico do país, o antigo Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa. Percebeu depois que estes objetos pertenciam a pessoas que lá tinham estado internadas (ou será, confinadas?).
Hoje decidi trazer-vos esta reflexão, por duas razões:
1) É incrível perceber a evolução na forma como se vê e tratam pessoas com problemas mentais. É certo que existe ainda um longo caminho a percorrer, mas acredito que é também importante olhar para trás e perceber o percurso que tem vindo a ser feito (não só ao nível farmacológico) – conhecem-se agora quais as abordagens mais ou menos eficazes dependendo do tipo de patologia diagnosticada; reconhece-se cada vez mais a importância da Psicoterapia, percebendo-se que a intervenção farmacológica, por si só, não é tão eficaz quanto pode ser se associada à Psicoterapia; presta-se cada vez mais atenção à saúde física e mental e ao bem-estar no geral.
Ainda assim, e perante toda a evolução, sinto que as pessoas se contradizem constantemente quando, por um lado, continuam a pregar acerca da importância do cuidado, mas por outro lado se tornam cada vez mais voltados para si próprios, mais egoístas, mais narcisistas.
2) Por outro lado, reparem como coisas ocasionais, e por vezes consideradas “simples”, tendem a ser desvalorizadas, ou até associadas a algo negativo e que nos podem provocar receios e medos. O ser humano, como ser de hábitos que é, vive na luta incessante de planear tudo ao máximo, controlar tudo, como se tivesse sempre receio e medo, do que pode acontecer sem que estejam à espera, ou como se não soubesse reagir caso algo inesperado acontecesse. É normal ter medo, assim como é normal sentir ansiedade perante algo novo e inesperado. Quando estamos perante algo novo existe sempre a possibilidade de sermos agradavelmente surpreendidos.
Assim, concluo deixando-vos duas questões:
– Como é que é suposto vivermos em sociedade e conseguirmos manter relações duradouras, se cada vez menos nos preocupamos com os outros?
– Que tal começarmos a valorizar mais os “pequenos momentos”, as “pequenas coisas” e as pessoas?
Autora:
Dra. Cátia Cardoso, Psicóloga Clínica (CP O.P.P 25113)
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