Dificuldades na leitura e na escrita

Terapia da Fala
A Dislexia e a Disortografia

A aprendizagem da leitura e da escrita não acontece de forma natural como aprender a falar. Ao invés, requer um ensino e aprendizagem formais. No entanto, tal como na fala, cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem e algumas demoram mais tempo do que outras em cada fase de desenvolvimento da leitura e escrita.

Quando é que se pode falar em Dificuldades Específicas da Aprendizagem?

As Perturbações Específicas da Aprendizagem, tais como a Dislexia e a Disgrafia, só podem ser formalmente diagnosticadas após dois anos de ensino formal da leitura e escrita(1), no entanto, existem  alguns sinais indicativos de dificuldades na leitura e/ou escrita, tais como:

  • se a criança apresentar dificuldades em realizar a correta associação som-letra;
  • se a criança apresentar uma leitura lenta, para o seu nível escolar;
  • se a criança apresentar dificuldade em compreender o que leu;
  • se a criança substituir letras semelhantes auditivamente e/ou visualmente;
  • caso realize demasiados erros ortográficos tendo em conta o seu nível de escolaridade;
  • se a criança demonstrar dificuldade em memorizar e lembrar-se das regras de ortografia da sua língua materna (por exemplo, os casos especiais de leitura, pontuação). (3,4,5)
O meu filho foi diagnosticado com Dislexia e/ou Disgrafia. O que é isso?

A dislexia reporta-se a uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica, que é caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um défice fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente, podem surgir dificuldades de compreensão leitora e experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais. (1)

O termo disortografia reporta-se a uma perturbação de aprendizagem específica com défice na expressão escrita. Apresenta-se, assim, como uma dificuldade na organização das frases, na correta utilização das regras gramaticais e morfossintáticas e, ainda, na correção ortográfica. (1)

As crianças com disortografia têm dificuldade em estruturar e expressar, através da escrita, as suas ideias e conhecimentos, realizando muitos erros, quer gramaticais como de pontuação.(2) Têm dificuldade na associação do som à letra o que, por sua vez, conduz a vários erros ortográficos como, adições de letras (“mare”), substituições (“vio”-“fio”), omissões (“caro” para “carro”) e inversões (“parto” em vez de “prato”). Dificuldades, pelas quais, muitas vezes as crianças com estas problemáticas evitam ler em voz alta, ir ao quadro e escrever textos ou composições, demonstrando uma falta de vontade ou motivação e nervosismo perante tarefas de leitura e escrita.(2)

Atualmente ainda não existe um consenso relativo à origem destas dificuldades contudo, sabe-se que estão associadas a dificuldades de perceção, memória visual, memória auditiva e ao nível espaciotemporal.(3,5,6) No domínio percetivo podem verificar-se dificuldades na perceção auditiva, conduzindo a problemas na discriminação de sons semelhantes (como f/v, j/ch, s/z, entre outros). Na memória auditiva, denota-se uma dificuldade na retenção do estímulo sonoro. As dificuldades ao nível espaciotemporal, também podem contribuir por interferirem na orientação das letras, na discriminação de grafemas/letras com traçados semelhantes (como p/q, d/b, p/b, d/p). Por outro lado, salienta-se, ainda, que os problemas de fala e de linguagem têm impacto ao nível da escrita.

A maior parte das crianças que apresentam dislexia – dificuldade na leitura – também apresentam disortografia – dificuldade na escrita mas não no seu traçado, no entanto, é possível haver uma disortografia sem que esteja presente uma dislexia ou uma disgrafia – dificuldade no traçado/grafia.(4)

Estas dificuldades devem ser avaliadas por técnicos especializados – Psicólogos, Psicopedagogos, Neuropsicólogos – em estreita colaboração com os pais, professores e Terapeutas da Fala, uma vez que o fraco desempenho nas competências de leitura e escrita, para o seu nível escolar, não podem ser consequentes de uma deficiência auditiva/visual, de uma Perturbação Específica da Linguagem ou de uma fraca estimulação escolar.

Para aprender a ler e a escrever é necessário que a criança tenha acesso a um ambiente estimulante e rico em experiências e, ainda, que se sinta motivada. Para isso, é fundamental que sinta que o nosso objetivo é ajudá-la e não a repreender pelos seus erros.

Torna-se muito importante estar atento aos sinais de alerta, de forma a permitir uma intervenção o mais precoce possível, tornando o processo de aprendizagem da leitura e escrita o mais harmonioso possível.

Autora

Jéssica Pina, Terapeuta da Fala (C-045905177).

Revisão da Literatura

1.Cruz, V. (2009). Dificuldades de Aprendizagem Específicas. Lisboa: Lidel-edições técnicasAfonso, L. (2010). Disortografia: Compreender para Intervir. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

2.Afonso, L. (2010). Disortografia: Compreender para Intervir. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

3.Coelho, D. (2014). Dificuldades de aprendizagem específicas. Dislexia, Disgrafia, Disortografia e Discalculia. Porto: Areal Editores

4.Fernandez, P., & Torres, R. (2002). Dislexia, Disortografia e Disgrafia. Lisboa: McGraw – Hill

5.Coimbra, B. (2013). Disortografia: Um Modelo de Intervenção. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

6.Critchley (1970). The Dyslexic Child By Macdonald Critchley. Heinemann Medical Books

Outros artigos
Siga-nos