Fisioterapia em contexto laboral

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Publicado em:
23 Junho, 2020

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O que é e para que serve a Fisioterapia em contexto laboral

Os últimos anos têm sido marcados por evidentes evoluções tecnológicas que, consequentemente, levam a um aumento da competitividade no mercado de trabalho e às exigências de produtividade impostas aos trabalhadores das mais diversas áreas. Este aumento da exigência provoca um maior desgaste físico e mental que, em associação com os crescentes níveis de sedentarismo (estima-se que cerca de 27% dos trabalhadores europeus passam a maior parte do dia sentados), contribui para o desenvolvimento de doenças profissionais.1,  2 

As doenças profissionais podem ser desenvolvidas tanto em contexto de trabalho fisicamente sedentário (escritório, por exemplo) em que se adotam frequentemente posturas estáticas e prolongadas, ou trabalhos de índole predominantemente física (operários fabris, por exemplo) com movimentos repetitivos e suporte recorrente de cargas.3, 4 Este tipo de lesões musculoesqueléticas afeta maioritariamente a coluna vertebral (principalmente nas regiões cervical e lombar) e os membros superiores, representando cerca de 40% de todas as doenças de origem laboral na Europa. 1, 5 Por esta razão, o absentismo (ausência do trabalhador) e o presentismo (presença do trabalhador, porém com défices significativos de produtividade) têm sido problemas crescentes em inúmeras empresas, quer pela diminuição de produtividade que acarretam, quer pelo aumento de custos que representam.2

É, então, de extrema importância implementar um programa de promoção de saúde em contexto laboral que previna o desenvolvimento de novas lesões musculoesqueléticas através de exercício físico focado nas necessidades de cada indivíduo, na sua sensibilização para melhores hábitos gerais de saúde e em alterações ergonómicas que potenciem a eficiência de cada tarefa.6, 7

Aspetos importantes na Promoção de Saúde Laboral

Comunicação: Cada posto de trabalho tem as suas características e cada indivíduo as suas particularidades, o que significa que a intervenção deve procurar ser o mais individualizada possível.1 Para que tal aconteça, é fundamental que exista uma linha de comunicação de qualidade entre o Fisioterapeuta e os restantes profissionais de saúde (Médico Especialista de Medicina do Trabalho, por exemplo), a direção da empresa em questão e com os próprios colaboradores. A relação com os trabalhadores é particularmente importante, dado que quanto mais integrados estiverem no programa, mais motivados e participativos se encontrarão, potenciando assim os resultados.2, 8, 9 

Exercício Físico e Educação: Atualmente são amplamente conhecidos os benefícios do exercício físico na saúde. Tem um importante impacto no bem-estar físico e mental, na diminuição da mortalidade e morbilidade, aumento de força muscular e capacidade cardiorrespiratória, assim como na regulação hormonal corporal (aumento de endorfinas e diminuição de cortisol).1, 7, 10 Por estas razões, o programa de promoção de saúde deve ter por base a prática de um conjunto de exercícios acessíveis e apropriados à população a que são destinados, e que sejam facilmente memorizados e reproduzidos autonomamente de forma regular durante o período de trabalho.11

A sensibilização e consciencialização destes benefícios é de suma importância, de modo a incrementar a participação, e assim aumentar a produtividade.6

Ergonomia: A intervenção ergonómica tem por objetivo contornar eventuais barreiras estruturais do posto de trabalho, com o intuito de diminuir a exigência física a ele associado, diminuindo por sua vez a probabilidade de desenvolvimento de patologias musculoesqueléticas. Dada a exigência a que os trabalhadores são sujeitos atualmente, a literatura científica tem vindo a demonstrar que as alterações ergonómicas, apesar de vantajosas, não são suficientemente eficazes se forem utilizadas isoladamente. Assim sendo, devem ser sempre associadas a um programa de exercícios, reforçando a condição física dos trabalhadores.6, 12

Concluindo, a saúde física e mental é essencial para o nosso bem-estar no seio da sociedade enquanto seres humanos, e para a produtividade enquanto trabalhadores. Como tal, deve ser promovida num contexto no qual estamos inseridos tantas horas por dia, apontando para a prevenção de doenças profissionais e tirando o máximo partido do exercício físico, um dos melhores recursos que temos à nossa disposição.

Autor

Pedro Costa Fisioterapeuta (OF 4964).

Revisão da Literatura

1.T. Dalager, J. B. Justesen, and G. Sjøgaard, “Intelligent Physical Exercise Training in a Workplace Setting Improves Muscle Strength and Musculoskeletal Pain: A Randomized Controlled Trial,” Biomed Res. Int., vol. 2017, 2017, doi: 10.1155/2017/7914134.

2.C. Cancelliere, J. D. Cassidy, C. Ammendolia, and P. Côté, “Are workplace health promotion programs effective at improving presenteeism in workers? A systematic review and best evidence synthesis of the literature,” BMC Public Health, vol. 11, pp. 1–11, 2011, doi: 10.1186/1471-2458-11-395.

3.O. O. Aje, B. Smith-Campbell, and C. Bett, “Preventing Musculoskeletal Disorders in Factory Workers: Evaluating a New Eight Minute Stretching Program,” Work. Heal. Saf., vol. 66, no. 7, pp. 343–347, 2018, doi: 10.1177/2165079917743520.

4.X. Chen, B. K. Coombes, G. Sjøgaard, D. Jun, S. O’Leary, and V. Johnston, “Workplacebased interventions for neck pain in office workers: Systematic review and metaanalysis,” Phys. Ther., vol. 98, no. 1, pp. 40–62, 2018, doi: 10.1093/ptj/pzx101.

5.D. Van Eerd et al., “Effectiveness of workplace interventions in the prevention of upper extremity musculoskeletal disorders and symptoms: An update of the evidence,”Occup. Environ. Med., vol. 73, no. 1, pp. 62–70, 2016, doi: 10.1136/oemed-2015- 102992.

6.M. Pereira et al., “The impact of workplace ergonomics and neck-specific exercise versus ergonomics and health promotion interventions on office worker productivity: A cluster-randomized trial,” Scand. J. Work. Environ. Heal., vol. 45, no. 1, pp. 42–52, 2019, doi: 10.5271/sjweh.3760.

7.S. Joyce et al., “Workplace interventions for common mental disorders: A systematic meta-review,” Psychol. Med., vol. 46, no. 4, pp. 683–697, 2016, doi: 10.1017/S0033291715002408.

8.M. D. Jakobsen, E. Sundstrup, M. Brandt, K. Jay, P. Aagaard, and L. L. Andersen, “Effect of workplace-versus home-based physical exercise on musculoskeletal pain among healthcare workers: A cluster randomized controlled trial,” Scand. J. Work. Environ. Heal., vol. 41, no. 2, pp. 153–163, 2015, doi: 10.5271/sjweh.3479.

9.L. L. Andersen, K. I. Proper, L. Punnett, R. Wynne, R. Persson, and N. Wiezer, “Workplace Health Promotion and Wellbeing,” Sci. World J., vol. 2015, no. 1, pp. 5–6, 2015, doi: 10.1155/2015/606875.

10.A. H. Y. Chu, D. Koh, F. M. Moy, and F. Müller-Riemenschneider, “Do workplace physical activity interventions improve mental health outcomes?,” Occup. Med. (Chic. Ill)., vol. 64, no. 4, pp. 235–245, 2014, doi: 10.1093/occmed/kqu045.

11.J. A. Caldwell, J. L. Caldwell, L. A. Thompson, and H. R. Lieberman, “Fatigue and its management in the workplace,” Neurosci. Biobehav. Rev., vol. 96, no. July 2018, pp. 272–289, 2019, doi: 0.1016/j.neubiorev.2018.10.024.

12.M. D. Jakobsen et al., “Effect of workplace- versus home-based physical exercise on pain in healthcare workers: Study protocol for a single blinded cluster randomized controlled trial,” BMC Musculoskelet. Disord., vol. 15, no. 1, pp. 1–9, 2014, doi: 10.1186/1471-2474-15-119.


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