Fisioterapia no Pós Ligamentoplastia do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)

Fisioterapia no Pós – Ligamentoplastia do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)
Anatomia e biomecânica do joelho

A articulação do joelho classifica-se como uma articulação troclear modificada, localizada, principalmente, entre dois ossos: o fémur e a tíbia. Esta articulação permite a flexão e a extensão, assim como uma pequena rotação da perna.12

Consiste na “união” entre duas articulações: uma entre o fémur e a tíbia e cuja função principal é a de suporte do peso corporal, enquanto a articulação entre a rótula e o fémur promove um movimento sem fricção.1

O Ligamento Cruzado Anterior (LCA) é um dos ligamentos que produz estabilidade, restringindo o deslizamento anterior da tíbia sobre o fémur e evitando a hiperextensão.11

Mecanismo de lesão e avaliação

As lesões no joelho são dos problemas mais frequentes do sistema músculo-esquelético. Em 9% dos casos, verificam-se danos num ou mais ligamentos, pelo que o Ligamento Cruzado Anterior é o mais lesado. Dado que o LCA é um estabilizador primário do joelho, uma rutura pode levar à instabilidade funcional 6 e a um maior risco de degeneração da cartilagem da articulação.5

Existem diversas ferramentas à disposição do Profissional de Saúde para avaliar corretamente a existência de uma rotura, devendo ser considerados, por exemplo:4

1. Historial do utente

Deve-se suspeitar de uma rutura do LCA a partir do momento que o utente afirme que, em algum momento, passou por um mecanismo de aceleração / desaceleração (marcha ou corrida), em conjunto com um valgo do joelho. Como antecedentes, verifica-se se existe tipo de lesão degenerativa que se possa ter “arrastado” por alguns anos.

2. Exame Clínico / Físico

Existem diversos Testes específicos para detetar uma rutura do LCA, entre os quais o Lachman Test e o Teste da Gaveta Anterior.

3. Ressonância Magnética

O recurso a este exame é, normalmente, realizado quando existe dificuldade em se aplicar os exames físicos ou quando existe alguma dúvida no Diagnóstico Médico.

A incidência de lesões no joelho, num período posterior a 5 anos após a cirurgia, é de 17%, em utentes com menos de 18 anos de idade e 7% em pessoas entre os 18 e os 25 anos.10

1.Teste da Gaveta Anterior8 2.LachmanTest8 3.Ressonância Magnética7

Cirurgia e pós – cirúrgico

Existem dois grandes métodos de ligamentoplastia. O tipo de enxerto ao qual se recorre há mais anos é o do tendão rotuliano (osso – tendão – osso), que oferece uma maior estabilidade da articulação, apesar de não existirem estudos suficientes que o comprovem e são utilizados, também, enxertos do tendão isquiotibial.2

 No pós- operatório costuma-se observar fraqueza e atrofia muscular (principalmente do Quadricípete), quando comparado com o membro contra- lateral e, por consequência, as funções do joelho estarão afetadas. Embora a Ligamentoplastia do Cruzado Anterior ofereça uma maior estabilidade ao joelho, a força muscular necessária à extensão do joelho estará bastante afetada, sendo notadas diferenças entre os 2 membros inferiores logo nas primeiras semanas. Num período de 1 a 6 anos poder-se-á verificar uma fraqueza que varia entre os 6% e os 18%.9

Por essas razões, é importante que se proceda à reabilitação e é crucial que os protocolos incluam exercícios que impliquem movimento, equilíbrio e proprioceção, em cadeia cinética aberta e fechada.10

Reabilitação

Os programas / planos de tratamento deverão ser sempre desenvolvidos individualmente para cada utente, pois existem vários fatores que influenciam a evolução do indivíduo, como é o exemplo da revascularização do enxerto e as técnicas de fixação deste.3

 O programa de reabilitação deverá, no entanto, respeitar determinados objetivos, de modo a obter – se uma evolução mais favorável:

  1. Amplitude de Movimento – Deve- se tentar obter o máximo de amplitude possível logo após a cirurgia, para se manter uma boa mobilidade do joelho e evitar o aumento de pressões na cartilagem.
  2. Suporte do Peso Corporal – É importante que se vá adaptando o joelho ao peso do utente, com aumento gradual da carga aplicada, de modo a que este não seja sobrecarregado.
  3. Fortalecimento Muscular – Um dos principais objetivos dos tratamentos é restabelecer o controlo do quadricípete e fortalecê- lo, recorrendo, principalmente, a estimulação elétrica neuromuscular e a protocolos de exercícios.
  4. Treino Neuromuscular / Proprioceptivo – Após a cirurgia, verifica -se uma alteração da noção do corpo da pessoa, relativamente ao seu centro de gravidade e à base de suporte. Por esse motivo, é importante que se realize um programa de exercícios dinâmicos que promovam o equilíbrio.

A reabilitação de uma lesão do Ligamento Cruzado Anterior é um processo normalmente demorado e extremamente exigente. Este deverá ser multidisciplinar, com vários intervenientes a serem decisivos quer ao longo da reabilitação (desde o Médico Cirurgião, Médico Fisiatra ou Médico de Medicina Desportiva e o Fisioterapeuta), quer na tomada de decisão nomeadamente para a alta clínica. É assim importante compreender que a adoção das estratégias aqui propostas visam corresponder aos objetivos da pessoa, sendo estas específicas não só para o fim a que se propõem, mas também para a própria pessoa e o a sua pretensão de atividade física pós-lesão.

Autor

Diogo Monge Fisioterapeuta (C-047398078).

Revisão da Literatura

1. Abulhasan, J. F., Michael J. Grey, M. J. (2017). Anatomy and Physiology of Knee Stability. Journal of Functional Morphology and Kinesiologia 2(3).

2. Biau, D. J., Tournoux, C., Katsahian, S., Schranz, P. J., Nizard, R. S. (2006). Bone-patellar tendon-bone autografts versus hamstring autografts for reconstruction of anterior cruciate ligament: meta-analysis. BMJ

3. Cavanaugh, J. T., Powers, M. (2017). ACL Rehabilitation Progression: Where Are We Now? Curr Rev Musculoskelet Medicine 10, 289–296

4. Filbay S. R., Grindem, H. Evidence-based recommendations for the management of anterior cruciate ligament (ACL) rupture. Best Practice & Research Clinical Rheumatology.

5. Frobell, R. B., Roos, E. M., Roos, H. P., Ranstam, J., & Lohmander, L. S. (2010). A Randomized Trial of Treatment for Acute Anterior Cruciate Ligament Tears. New England Journal of Medicine, 363(4), 331–342.

6. Grinsven, S. V., Cingel, R. E. H. V., Holla, C. J. M., Loon, C. J. M. V. (2010). Evidence-based rehabilitation following anterior cruciate ligament reconstruction. Knee Surgery and Sports Traumatology Arthrosc. 18, 1128- 1144.

7. Halinen, J., Koivikko, M., Lindahl, J. Hirvensalo, E. (2009). The efficacy of magnetic resonance imaging in acute multi-ligament injuries. International Orthopaedics (SICOT). 33. 1733–1738

8. Lubowitz, J. H., Bernardini, B. J., Reid, J. B. (2008). Comprehensive Physical Examination for Instability of the Knee. The American Journal of Sports Medicine. 36 (3). 578 – 579.

9. Kim, K. M., Croy, T., Hertel, J., Saliba, S. (2010). Effects of Neuromuscular Electrical Stimulation After Anterior Cruciate Ligament Reconstruction on Quadriceps Strength, Function, and Patient-Oriented Outcomes: A Systematic Review. Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy. 40 (7), 383- 391.

10. Manske, R. C., Prohaska, D., Lucas, B. (2012). Recent advances following anterior cruciate ligament reconstruction: rehabilitation perspectives. Critical reviews in rehabilitation medicine. Curr Rev Musculoskeletical Medicine. 5, 59- 71

11. Marieswaran, M., Jain, I., Garg, B., Vijay Sharma, V.,Kalyanasundaram, D. (2018). A Review on Biomechanics of Anterior Cruciate Ligament and Materials for Reconstruction. Applied Bionics and Biomechanics  2018 (1)

12. Seeley, R. R., Stephens, T. D., Tate, P. (2003). Anatomia e Fisiologia. McGraw- Hill Higher Education. 6ª Edição


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