Lesões por Golpe de Chicote (Whiplash)
O que é o Síndrome do Chicote?
O Síndrome do Chicote, também conhecido como Whiplash, define- se como uma lesão na qual o pescoço sofre uma hiperextensão forçada, seguida de flexão, decorrente de vários mecanismos, sendo os acidentes de viação o mais habitual.1 Segundo as estatísticas, 15% a 35% dos envolvidos em acidentes sofrem um golpe de chicote.4 Este processo e o impacto por ele causado provocam lesões a nível ósseo e muscular e que levam, mais tarde, a outros problemas / disfunções, descritos na literatura como Whiplash Associated Disorders (WAD).2
As queixas habituais da pessoa afetada, numa fase aguda são dor no pescoço e rigidez. Podem entretanto surgir outros sintomas, tais como:3
- Cefaleias
- Dores na coluna, ombros e membros superiores
- Dormência e falta de força nos membros superiores
- Tonturas, visão turva, vertigens
- Disfagia (dificuldade em engolir)
- Cansaço
Para além dos sinais físicos, é importante salientar que as lesões decorrentes do acidente / impacto podem, também, levar a diversas condições psicossociais. Entre as mais descritas verifica-se a depressão, raiva, medo, ansiedade e até distúrbios obsessivo-compulsivos.8
A classificação do Whiplash pelo Quebec Task Force (QTF) inclui cinco categorias 6 (Tabela 1), tendo vindo a ser atualizada ao longo dos anos (Tabela 2).
Diagnóstico
O diagnóstico de um Whiplash baseia- se, acima de tudo, num exame físico, no qual se procuram lesões musculares consistentes com a patologia, assim como défices neurológicos, através de testes específicos.5 Pode ser, também, necessário realizar exames complementares de diagnóstico.
O sucesso no tratamento depende de um correto diagnóstico e técnicas terapêuticas bem estruturadas.
1.Exame Físico 3
Com este exame tenta-se entender se existem diminuição das amplitudes de movimento, características da dor e outros sintomas compatíveis com a patologia. Procuram-se, também, por sinais de espasmos musculares e pontos gatilho.
Existem as “red flags”, que podem ser indicativas de anomalias graves, tais como sinais neurológicos nos membros superiores ou inferiores.
Num exame inicial, procuram-se, igualmente, fatores psicossociais que podem influenciar o processo de recuperação, tais como o défice de concentração e de memória, a fácil irritabilidade e o stress pós – traumático.
2. Diagnóstico por Imagiologia 8
Os principais exames aos quais se recorre são o Raio- X, que permite avaliar lesões osteoarticulares e a mobilidade raquidiana, a Ressonância Magnética (MRN) e Tomografia Computorizada (CT), sendo realizados quando se suspeita de lesões medulares, ligamentares, ou fraturas.
É necessário ter em atenção que, muitas vezes, não é possível identificar uma lesão estrutural. Por outro lado, a RMN e a CT podem não ser concludentes no diagnóstico.
Tratamento e a importância da Fisioterapia
Existem diversos estudos que destacam a importância da Fisioterapia nestas lesões, seja numa fase inicial ou numa situação crónica. 6
1.Fase Aguda / Sub- aguda
Inicialmente, os objetivos na Fisioterapia passam por diminuir as dores e reestabelecer a mobilidade cervical. 8
É recomendada a implementação de terapia manual, técnicas de mobilização passiva (musculares e articulatórias) e eletroterapia. Esta terapêutica poderá ser articulada com outros tratamentos, tais como a Acupunctura. 3
2. Fase Crónica
Nesta fase, mostrou ser eficaz a implementação de um plano multidisciplinar que engloba programas de exercícios, terapia em grupo e Terapia Ocupacional. 8
O Fisioterapeuta deve focar- se no ensino de exercícios de reeducação postural e fortalecimento muscular, permitindo, assim, manter uma boa amplitude de movimento e evitar que qualquer bloqueio, articular ou muscular, continuem a causar dores. 10
O prognóstico
O prognóstico para a reabilitação de uma pessoa que sofreu um Golpe de Chicote é, habitualmente, favorável, desde que adequadamente acompanhado. Perante todo o quadro clínico aqui apresentado é importante salientar que existe uma grande heterogeneidade de aspetos físicos e psicológicos envolvidos. Nesse sentido, entende – se que a avaliação clínica e o programa de reabilitação deverão ser rigorosos e individualizados. Este deverá ser sempre multidisciplinar, abrangendo vários profissionais, mediante as necessidades, tais como o Médico Fisiatra (e eventualmente outra especialidade), o Fisioterapeuta, o Terapeuta Ocupacional, entre outros.
É fundamental que o utente tenha um papel ativo durante os tratamentos e no pós- reabilitação e que siga sempre as recomendações dos profissionais de saúde, mantendo sempre atividades e exercício físico.
Autor
Diogo Monge Fisioterapeuta (C-047398078).
Artigo revisto em parceria com o Dr. Luís Boaventura (OM 48618) , Médico Especialista em Medicina Física e de Reabilitação
Revisão da Literatura
1. Bohman, T., Côté, P., Eleanor Boyle, E., Cassidy, J. D., Linda J Carroll, L. J., Eva Skillgate, E. (2012). Prognosis of patients with whiplash-associated disorders consulting physiotherapy: development of a predictive model for recovery. BMC Musculoskeletal Disorders. 13(264), 1-2.
2. Fernández-de-las-Peñas, C., Fernández-Carnero, J., del Cerro, L. P. Miangolarra-Page, J. C. (2004). Manipulative Treatment vs. Conventional Physiotherapy Treatment in Whiplash Injury: A Randomized Controlled Trial. Journal of Whiplash & Related Disorders. 3 (2), 75.
3. Tameem, A., Kapur, S., Mutagi, H. (2014). Whiplash injury. Continuing Education in Anaesthesia, Critical Care & Pain J. 14 (4), 167 – 180.
4. Sterner, Y., Gerdle, B. (2004). Acute and Chronic Whiplash Disorders – A Review. Journal of Rehabilitation Medicine. 36, 193–210.
5. Sharma, M., Coppa, N. D., Henderson, F. C. (2005). Whiplash Syndrome – An Overview. Seminars in Spine Surgery. 17, 49-52.
6. Seferiadis, A., Rosenfeld, M., Gunnarsson, R. (2004). A review of treatment interventions in whiplash-associated disorders. Eur. Spine J. 13, 387–397.
7. Rydevik, B., Szpalski, M., Aebi, M., Gunzburg, R. (2008). Whiplash injuries and associated disorders: new insights into an old problem. Eur. Spine J. 17 (3), 359-S416.
8. Yadla, S., Ratliff, J. K., Harrop, J. S. (2008). Whiplash: diagnosis, treatment, and associated injuries. Curr. Rev. Musculoskelet Medicine 1, 65-68.
9. State Insurance Regulatory Authority. (2014) Guidelines for the management of acute whiplash-associated disorders – for health professionals. Sydney. 3ª Edição.
10. Flanders, K., Feldner, H. (2017). Exercise, Manual Therapy and Postural Re-Education for Uncontrolled Ear Twitching and Related Impairments after Whiplash Injury: A Case Report. The International Journal of Sports Physical Therapy. 12 (5), 848 – 857.
11. Stålnacke, B. (2009). Relationship Between Symptoms and Psychological Factors Five Years After Whiplash Injury. Journal of Rehabilitation Medicine. 41, 353–359.
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