O envelhecimento da mão

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Publicado em:
18 Setembro, 2023

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O envelhecimento da mão

O envelhecimento é um processo que se caracteriza pela perda gradual de capacidades físicas e cognitivas, conduzindo a uma maior dependência da pessoa com o avançar da idade, caso não se previnam comportamentos de risco através de intervenções e estratégias de modo a manter/melhorar a qualidade de vida. A perda gradual da capacidade funcional faz com que as respostas motoras sejam menos coordenadas e rápidas(1). Com o avançar da idade, há maior dificuldade na utilização da informação sensorial bem como na deteção e correção de erros que prejudicam a autonomia e independência nas atividades da vida diária e comprometem o controlo motor(2).

As mãos, como qualquer parte do corpo, também sofrem as influências da passagem do tempo e consequentemente sofrem alterações das funções motoras e sensoriais, que podem acarretar grande perda na vida da pessoa e levam ao declínio da função manual. Capazes de criar e interagir com o meio, as mãos são uma extensão do intelecto, dada a sua versatilidade ao nível de pinças, preensões e discriminação sensorial é considerada como uma das ferramentas mais perfeitas e importante do cérebro(3,4).

Estilo de vida sedentário, patologias relacionadas com processo degenerativo das articulações, redução da massa muscular (sarcopenia) e do número de fibras nervosas mielinizadas são determinantes para a autonomia e independência.

A diminuição progressiva da função manual, nomeadamente na população idosa, é consequência de alterações degenerativas do sistema musculoesquelético, vascular e nervoso.

Os principais fatores envolvidos no declínio da função manual dividem-se em intrínsecos e extrínsecos(3,5):

Fatores Intrínsecos

  • Genéticos
  • Endócrinos (hormonais)
  • Distúrbios Metabólicos
  • Distúrbios músculo-esqueléticos (osteoartrite, artrite reumatoide, osteoporose)
  • Alterações patológicas
  • Diminuição da acuidade visual

Fatores Extrínsecos

  •  Fatores ambientais (radiações ultravioletas, produtos químicos)
  •  Atividade física (tipo de profissão, desporto ou hobbies)
  •  Alimentação
  •  Situações traumáticas
  •  Fatores comportamentais (diminuição da atividade física e vida sedentária)

A preensão só é feita pelas mãos, o que as torna únicas e essenciais. A preensão é o ato de agarrar, segurar ou apanhar. Por isso é tão importante manter e estimular ao máximo a função da mão. Já imaginou o que será perder a função da mão?

Com o envelhecimento, diminui a força de preensão, com especial atenção para os músculos da eminência tenar, que constituem aproximadamente 40% dos músculos intrínsecos da mão, pelo papel crucial na função manual e na competência de preensão(3,4). Assim, no envelhecimento há perda de fibras musculares, diminuição do comprimento da fibra, diminuição da massa muscular (sarcopenia) de 25% a 45% e a força de preensão é diminuída em cerca de 25%(3,6).

Também os tendões, que unem os músculos ao osso e alongam durante a contração muscular, constituídos essencialmente por tecido conjuntivo e fibras de colagénio, sofrem com o envelhecimento havendo uma menor hidratação destes acompanhada de perda de proteoglicanos e também degradação das fibras de colagénio(3,4).

Os ossos e articulações sofrem alterações morfológicas e patológicas consideráveis, como osteoartrite (no período pós-menopausa a incidência é marcadamente superior), osteoporose e artrite reumatóide(3).

Funcionalmente as unhas são importantes ferramentas para as preensões finas e manipulação de pequenos objetos e com o envelhecimento há alterações ao nível da cor, contorno e espessura contudo estas mudanças não constituem prejuízo na funcionalidade(3).

As mãos são uma das estruturas mais expostas ao stress  ambiental e, juntamente com o envelhecimento, a pele das mãos torna-se mais fina e frágil, seca e com menor elasticidade, nomeadamente na região dorsal, estando mais sujeitas a lesões e o processo de cicatrização torna-se também mais lento(3).

Há ainda uma diminuição da sensação tátil nos dedos devido à diminuição de mecanorreceptores e sensação mais constante de frio nas mãos devido à diminuição do fluxo sanguíneo nesta região(3).

Assim, com o envelhecimento é normal haver maiores dificuldades na função e destreza manual, afetando as atividade do dia-a-dia. Esta perda de funcionalidade manual parece estar inalterada até aos 65 anos começando a partir daqui um declínio gradual(3,7,8).

A deterioração da função manual ocorre como resultado do envelhecimento normal e devido a problemas que normalmente ocorrem nos idosos, como, osteoporose, osteoartrite e artrite reumatóide(3,8).

Uma avaliação correta é fundamental para identificar os problemas e as principais necessidades deste grupo populacional, assim caso sinta que tem perdido função ao nível das mãos, que já não consegue segurar os objetos como antigamente, que as tarefas de motricidade fina têm-se tornado mais exigentes, procure um Terapeuta Ocupacional.

Autora

Andreia Vieira, Terapeuta Ocupacional (C-044359187).

Revisão da Literatura

1. Rodrigues P.C., Vasconcelos M.O., & Barreiros J.M. (2010). Desenvolvimento da assimetria manual. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto,10(1)

2. Cinelli M., Patla A, & Stuart B. (2008). Age-related differences during a gaze reorientation task while standing or walking on a treadmill.

Experimental Brain Research, 185 (1)

3. Carmeli, E., Patish, H., & Coleman, R. (2003). The Aging Hand. Journal of Gerontology: Medical Sciences, 58A (2)

4. Kapanji, A. (2000). Fisiologia Articular – Volume I. 5ª ed.Editorial Medica Panamericana

5. Hackel, M. E., Wolfe, G. A., Bang, S. M., & Canfield, J. S. (1992). Changes in Hand Function in the Aging Adult as Determined by the Jebsen Test of Hand Function. Physical Therapy, 72 (5)

6. Lenardt, M. H., Grden, C., Sousa, J., Reche, J., Betiolli, S., & Ribeiro, D. (2014). Fatores associados à diminuição de força de preensão manual em idosos longevos. Rev Esc Enferm USP 2014; 48(6).

7. Sasaki, H., Kasagi, F., Yamada, M., & Fujica, S. (2007). Grip strength predicts cause-specific mortality in middle-aged and elderly persons. Journal of Medicine, 120.

8. McIntyre, A., & Atwal, A. (2005). Occupational Therapy and Older People. 1ª ed. Blackwell Publishing Ltd

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