
Quebrar o silêncio
Dou-me conta que o silêncio se encontra envolto numa espécie de onda de mistério e secretismo, quase como se fosse matéria acerca da qual não se deve falar. Isso prolonga ainda mais o silêncio, transformando-o em fonte de conflitos, afastamentos, alargamento de espaços vazios e solidão.
O silêncio não é como um espaço em branco. Por exemplo, o que seria da música, sem o ritmo dos silêncios?
Pelo contrário, quando utilizado de forma consciente, é uma excelente forma de comunicar com o outro. Assim, dependendo do contexto, pode significar medo, encantamento, afastamento ou aproximação.
Penso que nunca se está verdadeiramente em silêncio, porque não é possível silenciar a mente e a sua natural agitação. Nem sequer é possível escutar verdadeiramente em silêncio, porque a escuta envolve reflexão, e a reflexão não é silêncio.
Entre as suas diferentes tipologias, existe uma que aproxima as pessoas, porque é nesse espaço potencial gerado através do silêncio, que crescem as fontes de inferência acerca daquilo que o outro é.
Para mim, o silêncio é uma excelente fonte de intimidade emocional entre as pessoas, uma vez que estar em silêncio tem simbologias próprias, de acordo com cada relação. Nos casos em que é instrumento de intimidade, pode até ser uma forma positiva, profunda e abrangente de se estar acompanhado.
É precisamente neste tipo de relação que se gera um silêncio que não se deve destruir, porque é quase como se fosse um código, que deve ser respeitado, uma vez que é construtivo e organizador. Este tipo de silêncio permite, por exemplo, adivinhar o significado implícito dos gestos ou de um olhar de alguém.
Sei que nalgumas relações o silêncio é constrangedor, principalmente quando não se sabe como quebrá-lo, ou quando ele representa uma ameaça.
É por isso que acredito que a melhor forma de quebrar o silêncio numa relação, é falar acerca desse silêncio.
- Donde veio?
- Quando começou?
- Porque se mantém?
- O que poderá querer dizer?
- Que função desempenha nesta relação?
Assim se criam espaços de crescimento e diálogo, que se podem revelar como espaços potenciais de crescimento individual.
Desta forma, abrem-se novas vias de comunicação.
O silêncio é matéria tão rica. Por isso nunca me canso de falar acerca do silêncio!
Autor
Rolando Andrade, Psicólogo Clínico (CP O.P.P 4365).
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