Síndrome de Dor Crónica Pélvica nos Homens
Todas as disfunções do pavimento pélvico têm a mesma origem – alteração da qualidade dos músculos que sustentam os órgãos que se encontram na cavidade abdomino-pélvica.
É fundamental tratar estes músculos da mesma forma que qualquer outro músculo esquelético, o que implica utilizar adequadas medidas terapêuticas.
O Síndrome de Dor Crónica Pélvica
O Síndrome de Dor Crónica Pélvica (CPPS) ou muitas vezes também chamado de prostatite crónica (a forma mais frequente de CPPS) não é diferente das outas disfunções pélvicas. É uma inflamação crónica da próstata que afeta significativamente a qualidade de vida dos homens. Esta dor deve persistir entre 3 a 6 meses e é o tipo mais comum de prostatite.
Esta dor pode ser localizada na região dos testículos, suprapúbica, pénis e no espaço entre o ânus e os testículos.
Para além da dor, este síndrome é frequentemente acompanhado de alterações sexuais como disfunção erétil, ejaculação precoce ou dolorosa e queixas urinárias como sintomas de micção e armazenamento, fluxo diminuído, frequentes micções e micção urgente.
Por ser de diagnóstico difícil, estes utentes por vezes não recebem o tratamento adequado levando a estados de ansiedade maiores.
CPPS é angustiante para os pacientes e causa problemas físicos, emocionais levando a comprometimento significativo em qualidade de vida. Dificuldade no diagnóstico preciso e na aplicação de tratamento eficaz leva ao paciente insatisfação e frustração.
Além disso, o CPPS pode estar relacionado com a cistite intersticial, proctalgia fugaz em homens e vulvodinia em mulheres. No entanto, desta vez, vou-me focar mais nos homens.
Todas estas condições têm por base a mesma anatomia – o pavimento pélvico.
Em 19981, Wall e Delancy escreveram um artigo sobre as disfunções do pavimento pélvico. Neste artigo publicaram a imagem ao lado representada onde explicam até onde cada especialidade médica atuava e relembraram um facto deveras importante: todos os diferentes órgãos tratados por diferentes especialidades assentavam numa base comum: os músculos do pavimento pélvico! Reforçaram então a importância de uma equipa multidisciplinar para conseguirem ter melhores resultados no tratamento de diferentes condições clínicas.
Tratamento
As indicações da Associação Europeia de Urologia de 2013 sobre dor pélvica crónica recomenda uma abordagem multidisciplinar para conseguir os melhores resultados. É frequente serem prescritos medicamentos como antibióticos quando a infeção for identificada, anti-inflamatório e analgésicos opióides, entre outros. As terapias cirúrgicas devem ser usadas como último recurso. A Fisioterapia do Pavimento Pélvico pode ajudar com o objetivo de tratar as estruturas músculo-esqueléticas desta região pélvica onde todos os órgãos da cavidade abdominal e pélvica assentam.
Fisioterapia Pavimento Pélvico
Sem me querer repetir no que já referi noutro artigo sobre esta temática, os músculos do pavimento pélvico, são isso mesmo: MÚSCULOS! E portanto devem ser tratados de igual maneira como o músculo do braço, da perna ou do ombro. E estes músculos são bastante “sentimentais”, ou seja facilmente acumulamos tensão/stress nesta região.
Nos CPPS o principal problema destes músculos é a hiperatividade, ou seja, estão contraídos demais. O objetivo da fisioterapia é libertar esta tensão usando técnicas específicas como por exemplo técnicas miofasciais para libertação de pontos gatilho (Trigger Points) internos e externos, técnicas de alongamento, etc. – pode ler mais em Fisioterapia do Pavimento Pélvico.
Mais importante que tudo: NÃO DESESPERE! A AJUDA EXISTE! Procure um especialista que o ajude a delinear um plano de intervenção adequado à sua condição.
Testemunho Real
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“Em 2018 comecei a sentir uma dor desagradável na zona do escroto. Era uma dor intensa que piorava quando estava sentado. Sentia ainda algo parecido como uma bola de golf na zona do ânus. Fui ao médico de família que me receitou uns medicamentos e uma ecografia abdominal que em nada resultou ou adiantou. Fui então encaminhado para o serviço de urologia onde fiz vários exames: cistoscopia, ecografia retal, análise à próstata entre outros que já nem me recordo. Veio positivo para uma inflamação na próstata. Receitaram-me antibióticos e lá fui eu todo esperançoso que era desta que ficava bem! Mas não! Ao fim de quase um ano entre médicos a minha situação tinha agravado. Agora tinha dor também durante a ejaculação no ato sexual. Era desesperante. Comecei a evitar contactos mais íntimos o que me deixava extremamente stressado. Durante o trabalho, já não tinha posição….se sentado era insuportável, de pé nem consigo encontrar as palavras certas. Os medicamentos não faziam efeito e ponderei fazer uma cirurgia. No entanto após ler muito sobre esta condição decidi tentar a fisioterapia. Não sabia bem para o que ia, mas estava disposto a tudo! Na primeira sessão….senti um alívio formidável…no entanto percebi que esta condição era algo que poderia regressar agravando os sintomas. Então a fisioterapeuta para além do tratamento que me fazia deu-me ferramentas para trabalhar sozinho em casa e melhorei significativamente a minha dor e a minha qualidade de vida! ” Pedro Miguel 41, anos de idade, Comercial.
Autora:
Joana Boa-Alma Pais, Fisioterapeuta (C-028142071).
Revisão da Literatura
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